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A posição que ninguém quer - Entrevista com Pedro Neves

Se há algo em que todos concordam no futebol, dentro e fora das quatro linhas, é a ingratidão da posição mais recuada do campo, o último reduto duma equipa, o guarda-redes. Na Briosa, não há exceções, mas a camisola número um está entregue e bem, a Pedro Neves, há mais de dez anos. Hoje damos-vos a conhecer um pouco mais do nosso guarda-redes preferido, numa conversa bem animada.

P – Olá Pedro! Temos de começar com a pergunta mais evidente. Conta-nos como chegaste à Briosa há onze épocas?

PN – Olá malta e obrigado pela oportunidade de me darem a conhecer passados tantos anos (risos). Desde que deixei de jogar por lesão com alguma gravidade quase não jogava à bola, só com amigos. Na altura costumava jogar futebol de sete às segundas, no Clube TAP, quando os olheiros Zina e Miguel, se não estou em erro, me sugeriram ir para o CIF jogar futebol de onze, para uma equipa de nome Briosa. Combinamos então com o Presidente Luis Barroso na rotunda da Damaia, que me expôs as condições e acabei por aceitar o desafio. Encontrei um grupo tranquilo no balneário mas que vivia intensamente os jogos, como é o caso do Araújo, o primeiro que me lembrei não sei porquê (risos), do Thern, do Filipe, do Mag e o Correia, e também do Jorge. Eram os que via a viver aquilo de maneira diferente dos demais. Com o tempo fui-me adaptando ao grupo e acabei por entrar no espirito da Briosa.

P – As primeiras épocas devem ter sido complicadas para ti. Quando entraste provavelmente nunca pensaste que irias continuar durante mais de uma década. O que é que te fez voltar todos os fins-de-semana?

PN – Ao início, o que me fez continuar foi o prazer de jogar, principalmente, depois de tantos anos parado e apesar de ser uma equipa que lutava para a não descida, nunca desmotivei. Pessoalmente, prefiro estar numa equipa em que eu tenha o que fazer, pelo gosto de estar em jogo, do que estar lá atrás sem fazer nenhum durante o jogo todo. Claro que também fui ganhando mais afinidade com algumas pessoas, que me levou a não falhar com elas, mesmo levando as tareias que levamos em alguns jogos (risos, mais do que um editor da Briosa gostaria de admitir). Nunca me passou pela cabeça, passados 10 anos, estar ainda aqui e a ainda a ser entrevistado.

P – Hoje em dia o teu papel na Briosa mudou. A equipa aumentou bastante o seu nível competitivo e todos os fins-de-semana uma defesa tua pode fazer a diferença entre irmos para casa tristes ou contentes. Tendo percorrido um caminho tão longo, o que é que falta à Briosa para lutar pelos títulos?

PN – É uma satisfação impagável ter visto o crescimento da Briosa durante o período que cá estou, o que me levou também a mudar o meu papel como dizem. Por exemplo tive de aprender a jogar com os pés, com o tipo de jogo que o mister adotou, pois fui alvo de ultimato pelo mesmo (o editor da Briosa não se responsabiliza pelas consequências desta afirmação). Como não me queria ir embora, acedi ao comando do ditador (nem desta) e lá fui evoluindo, com muito ainda por aprender. Para lutar pelos títulos… sorte. O resto julgo que já temos o que é preciso, tal como dedicação, trabalho e qualidade. Provavelmente é o que as restantes equipas também têm, mas do que vejo nenhuma tem um fator imprescindível que existe na Briosa… a união. Claro que é um longo caminho a percorrer mas estamos no bom caminho.

P – São poucos os guarda-redes que jogam sempre à baliza. Por exemplo, o Rui Patrício era guarda-redes e avançados no Marrazes. Conta-nos como começaste na baliza e como correram os primeiros tempos.

PN – Normalmente é sempre o gordo que vai para a baliza…. No meu caso sempre fui à baliza por gosto. Na escola, às vezes jogava à frente, mas não me dava o mesmo prazer. Não era a mesma coisa ir para as aulas da parte da tarde sem a roupa cheio de pó por ter andado a arrojar. Na rua onde morava, jogávamos na calçada dos passeios com os portões das garagens a fazer de balizas. Acabámos por juntar amigos e fizemos uma equipa para participar nos jogos de Lisboa pela Academia Joaquim Xavier Pinheiro, onde encontrei um mundo completamente à parte do que estava habituado. Como devem calcular, chegámos a jogar em campos bastante hostis, tais como Ameixoeira, Charneca, Casal Ventoso e Musgueira. Mas onde realmente tive receio foi mesmo num campo perto do castelo de S. Jorge, onde a baliza estava mesmo encostada à parede de um prédio. No meu lado, até vasos caíam! Depois de mudar de escola, onde fazíamos mensalmente um Sporting-Benfica, os olheiros do Ramiro José (futebol de cinco) fizeram-me o convite para ir para os juniores do clube. Com 17 anitos juntei-me à equipa sénior onde, infelizmente, me aleijei com gravidade no cotovelo e fui obrigado a parar. Quando começaram a aparecer os sintéticos, o bichinho voltou e comecei a jogar com amigos até chegar à Briosa. Mas não posso dizer que tenha tido uma longa carreira, apesar de jogar com a idade que tenho.

P – Tanto nos treinos como nos jogos, o guarda-redes tem sempre uma posição privilegiada para analisar os jogos. Apesar de teres mais trabalho que o guarda-redes normal, quem é que destacas nos teus anos de Briosa?

PN – Em primeiro lugar destaco o Araújo e o Thern, pela entrega de corpo e alma dentro de campo. Só não comiam a relva porque é de plástico (risos)! E claro que não me posso esquecer do Manel, que vi crescer tanto na qualidade como na estabilidade e coesão que dá à equipa quando está em campo. De salientar também as chuteiras brancas do Palmares, espero que nos dêem muitas alegrias (risos, que se justificam plenamente na opinião isenta deste editor).

P – Já terás um número significativo de jogos pela Briosa, mais de trezentos talvez. Qual é o jogador adversário que ainda hoje te deixa com insónias na sexta-feira antes do jogo?

PN – O Miguel do CDUL.

P – E o melhor golo que já sofreste. Lembras-te de algum golo fenomenal?

PN – Assim de repente um que me fica na retina foi um do meio campo contra o Madeira. O Duarte ainda diz que foi um atraso (risos).

P – Agora que o Buffon se vai retirar, como é que encaras a reforma?

PN – Encaro com naturalidade… enquanto o prazer de jogar for maior que o sacrifício, não penso muito nisso. É verdade que ultimamente tenho tido algumas lesões, nomeadamente nos joelhos, o que acho normal depois de tantos anos a levar pancada nessa zona. Julgo que ter jogado tanto tempo em calçadas e cimentos também não ajudou muito (risos). Mas tenho trabalhado, mesmo em casa, no sentido de fortalecer essa zona para aguentar mais uns anos.

P – A Briosa (principalmente o Vasco) agradece essa tua promessa. Para terminar, enquanto fã das duas rodas, se tivesses de escolher entre ganhar uma prova do Moto GP ou ganhar o campeonato com a Briosa, qual é que escolhias?

PN – Depende do reembolso (risos). Claro que faz mais sentido ganhar o campeonato com a Briosa por tudo o que isso envolveria emocionalmente.

Obrigado Neves! Que continues connosco muitos mais anos.


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