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O Sr. António em entrevista - "Olha, meu amigo, aqui não há só um título de campeão para ganhar

Encontrámos o Sr. António no seu local de trabalho habitual. A hora tinha sido mais ou menos combinada e lá estava ele, à nossa espera, com a simplicidade e o sorriso habituais. Ajeitou o galhardete do seu Benfica na parede, antes de puxar duas cadeiras para se conversar à vontade.

A sua segunda neta tinha acabado de nascer e as primeiras palavras foram sobre isso. Muito feliz e muito orgulhoso, com muita vontade de ser um bom avô, o Sr. António fez rapidamente a ponte para nos falar de coração da sua segunda família: o CIF.

Com uma humildade nostálgica e ao mesmo tempo sonhadora, com muito para ensinar a quem o quiser ouvir, o Sr. António é, sem o querer ser!, um dos maiores Cifistas: alguém que guarda o Clube, que o trata e cuida.

Muito obrigado, Sr. António. É um verdadeiro privilégio este, o nosso.

Pergunta: O Sr. António está há quantos anos no CIF?

António Fernandes: Vai para 32 anos. Vim para o CIF em 1986.

P: Conte-nos lá como é que isso começou… como foi o seu percurso no CIF? Qual é a sua primeira memória?

AF: Eu vim para o CIF para o ténis. Tinha acabado de me casar, tinha a minha esposa grávida do meu filho mais velho, e como no CIF me ofereciam habitação, decidimos vir para o CIF porque juntava o útil ao agradável, ou seja, tinha a habitação e tinha também o emprego.

P: E qual é a sua primeira memória do CIF? O que é que mais o impressionou quando entrou cá?

AF: Quando cheguei ao Clube não estava muito por dentro do que era o desporto em si. Conhecia o futebol lá fora, no estádio, mas não estava muito por dentro do Clube. O que mais me impressionou foi a forma simples como as pessoas viam o desporto e praticavam o desporto, sem que houvesse a competitividade e a rivalidade que havia nos estádios onde eu via futebol.

P: Entretanto as coisas mudaram um bocadinho, os filhos foram crescendo, mas o Sr. António teve durante muitos anos toda a sua família consigo, no CIF. Conhece o CIF quase como ninguém. Que tipo de lugar é este, para si? O que é o CIF? Que tipo de valores encontramos aqui?

AF: Bem, o CIF não é apenas um clube para se praticar desporto, é mais do que isso: é uma família, onde as pessoas se sentem à vontade e reúnem com os seus amigos, onde deixam os seus filhos a aprender um desporto, como no caso do ténis ou mais recentemente do futebol, e onde estão à vontade porque sabem que estão num Clube onde, para além dos seus filhos praticarem desporto, também crescem como homens.

P: E que homens é que este Clube está a formar?

AF: Eu tive o privilégio de ver aqui nascer no Clube, ao nível desportivo, atletas que seguiram até ao mais alto nível na alta competição, mas vi também crescer aqui homens que hoje em dia são gerentes de empresas, administradores de empresas… outros vejo até na televisão, porque receberam um prémio europeu de não sei quê… Era um miúdo que eu vi crescer aqui e quando vejo na televisão digo assim, “Eh pá aquele miúdo foi condecorado com o prémio de…” Como agora, por exemplo, um rapaz do Madeira que recebeu um prémio de empreendedorismo na área da restauração. No fundo, pessoas que se formaram e que hoje são pessoas bem sucedidas na vida.

P: O Sr. António trabalhou no ténis, durante muitos anos, mas ultimamente ficou responsável pelo futebol. Que diferenças há no Clube, entre estas modalidades?

AF: Ora bem, eu não noto muita diferença. Sempre houve no CIF uma certa rivalidade entre ténis e futebol, mas eu pessoalmente não noto muita diferença. Houve de facto entre algumas pessoas, mas graças a Deus que não é na generalidade, não são todas as pessoas que dividem o CIF em dois clubes ou duas modalidades. Nós temos casos de miúdos do ténis que estão aqui hoje a jogar futebol, bem integrados, com uma grande responsabilidade nas suas equipas. Felizmente, essa rivalidade não se vê em todos os sócios.

P: E o futuro? O CIF é um Clube muito antigo, com mais de 100 anos, onde coincidem diariamente diferentes gerações. Acha que o futuro está garantido? Como é que tem assistido à passagem de testemunho, ao longo dos anos?

AF: É assim, à frente do clube existem sempre pessoas mais velhas que têm uma certa preocupação em manter a essência do Clube. No entanto… a necessidade de gerar receitas, o crescimento do Clube através das suas infraestruturas, obriga a que o Clube tenha que ceder parte dos seus espaços a concessionárias, e isso leva a que o Clube comece a ser frequentado por pessoas que não são sócias. Isso cria algum desequilíbrio, ou seja, aquele conceito do CIF de quando eu cá cheguei, que era só para sócios e acompanhantes… agora há outras pessoas que para frequentarem o CIF basta comprarem horas a uma empresa, a um concessionário, como é o caso do ginásio, ou aqui da Masterfoot.

P: E como é que vê isto a caminhar no futuro? Vê o futuro salvaguardado, a caminhar numa boa direção, ou há alguma coisa que o preocupe um pouco mais?

AF: Quando eu olho aqui para a secção em que eu trabalho e vejo a equipa da Briosa, por exemplo, que da altura do Zé da Gama para cá foram aparecendo pessoas novas que têm vindo a trazer qualidade e responsabilidade às equipas, de facto eu só tenho de estar otimista e acreditar que o Clube não vai parar e vai ser cada vez mais forte. Vocês têm gosto pelo Clube e tenho a certeza que, daqui a alguns anos, aqueles que são os delegados da Briosa ou de outras equipas poderão até vir a ter cargos diretivos no Clube.

P: E agora sobre o torneio de futebol. Já muito antigo, também. O que é que lhe vem à cabeça? Como é que tem evoluído?

AF: O torneio de futebol sempre teve pessoas que jogavam futebol em outros clubes e depois juntavam-se ao sábado e ao domingo para fazer os seus joguinhos e beber as suas imperiais… entretanto, com a evolução do futebol, do futebol federado, o CIF começou a tornar o seu torneio mais competitivo. Porquê? Hoje em dia já não é tão atrativo jogar nas equipas dos distritais, dos escalões mais secundários do futebol. O CIF oferece uma grande estabilidade de organização deste torneio aos praticantes, e esses praticantes preferem de facto jogar neste torneio porque está bem organizado, e também porque tem boas condições, boas infraestruturas. Estou convencido que o torneio vai seguir cada vez melhor.

P: Já passaram pelo CIF muitos craques, nomes bem conhecidos. Que jogadores é que mais o impressionaram?

AF: Enquanto homens e enquanto pessoas, todos eles. Aquilo que a gente vê na televisão é uma coisa, mas depois são pessoas normais que colaboram, que brincam, que jogam futebol com prazer, com os seus amigos, ao fim-de-semana. É diferente jogarem profissionalmente ou jogarem aqui no CIF.

P: Mas e jogadores, nomes, quem é que foram os mais impressionantes?

AF: Tecnicamente, pronto, eu não vi o Eusébio, mas há dois jogadores: o Carlos Xavier e o Rui Esteves, que jogou no Benfica vindo do Vitoria de Setúbal. Eram dois jogadores que…. pronto, é assim, eles faziam da bola o que queriam, metiam a bola onde queriam, era outro nível, era de facto uma categoria vê-los jogar.

P: E equipas? Que equipas é que o marcaram mais?

AF: Há um árbitro daqui, um árbitro que foi profissional, o João Ferreira, que admira eu durante tantos anos lidar com 16 ou 18 equipas, e não ter uma equipa favorita. E vou explicar porquê: como sabem, nós na nossa vida temos pessoas de que gostamos mais, e pessoas de que gostamos menos… eu encaro o torneio como um só, e em todas as equipas tenho pessoas com quem simpatizo mais, e pessoas com que simpatizo menos. Não tenho nenhuma equipa só de amigos, daí que eu não possa ser adepto de ninguém porque não tenho uma equipa em que eu diga assim, “Eh pá, estes são todos meus amigos e eu sou adepto desta equipa”. Gosto de todas porque em todas as equipas tenho amigos.

P: Continuando a falar de futebol, há um nome incontornável no CIF, por ser das equipas mais antigas: a Briosa. O que é que a Briosa lhe diz? O que lhe vem à cabeça?

AF: Desde que cheguei ao CIF encontrei na Briosa uma das equipas mais ligadas ao espirito do Clube. Tem vindo, do meu ponto de vista, a melhorar de ano para ano. Aqui há um tempo, uma lenda da Briosa, o Sr. Rivera, chegou ao pé de mim e disse-me: “António, a Briosa caminha para ser campeã no CIF”. Eu como sou mais cauteloso não digo isso, digo é que de facto a briosa tem vindo a melhorar, tem-se vindo a renovar e tem-no feito com critério. Tem tido a sorte de aparecerem pessoas com muita vontade e muito carinho pelo Clube, e tem crescido nesse sentido, ou seja, tem criado um grupo muito bonito e muito estável, bem integrado no espirito do CIF, e penso que o valor desta equipa está garantido para os próximos tempos.

P: O seu filho João vestiu a camisola da Briosa várias vezes. Chegou até a anunciar ao CIF a sua nova neta com o símbolo da Briosa ao peito, depois de marcar um golo. Assistia aos nossos jogos com outro nervosismo, outra ansiedade?

AF: É assim… eu não ia ser correto se eu não gostasse de ver o meu filho jogar. É verdade que eu gostava de ver o meu filho jogar. Ele jogar, estar em campo ou no banco, marcar golos… claro que são sensações totalmente diferentes. Quando ele faz um golo eu fico contente, porque é meu filho. Quando a equipa onde o meu filho está faz um golo, é evidente que eu fico contente, como é óbvio.

P: Bom… e olhando para a frente, com que é que uma equipa como a Briosa, muito antiga mas a atravessar momentos de renovação, se deve preocupar?

AF: A Briosa tem que se preocupar, como todas as outras equipas, em sentir que dentro deste torneio são trezentos e tal sócios, e todos esses sócios têm uma responsabilidade enorme de manter este torneio vivo. A Briosa, cada vez que trouxer um novo sócio para a sua equipa, tem que lhe saber explicar o que é jogar no CIF, o que é o espírito do CIF e o que é que vai encontrar. É uma responsabilidade grande que vocês têm.

P: Então e que conselho é que o Sr. António pode deixar, o que é mais importante transmitir a estes novos sócios que chegam ao Clube para o torneio de futebol?

AF: Se eu estivesse no vosso lugar e viesse um jogador novo para inscrever na equipa, aquilo que eu dizia era assim, “Olha, meu amigo, aqui não há só um título de campeão para ganhar. Aqui há um jantar para ganhar. Uma Taça Disciplina para ganhar. Há uma Taça do CIF para ganhar, e um campeonato para ganhar, mas há principalmente muitos amigos para a ganhar. Poder depois conversar com eles na rua, e ter o prazer de dizer “olha, joguei contigo na Briosa!”, e criar grandes amizades.

P: Para finalizar, vamos jogar no totobola. Quem é que o Sr. António acha que vai ser o campeão este ano?

AF: Até ao momento, a equipa que se apresentou melhor foi sem dúvida o Madeira. No entanto, temos o ACDUL que é uma equipa muito matreira, que jogam um futebol que eu até já lhes disse que é cínico, que eu até nem gosto muito de ver, mas que terá sempre uma palavra a dizer.

P: E em que posição vai acabar a Briosa?

AF: Eu ficava contente… vocês fizeram 50 e tal pontos no ano passado não foi? Acabaram em 7º… eu ficava contente se vocês ficassem em 7º, 6º ou 5º lugar, para mim já era bom, mas sobretudo que mantivessem esta regularidade, esta prestação no Clube, entrarem satisfeitos e saírem satisfeitos, fazerem os vossos jantares e saírem daqui divertidos. Ganharem eventualmente outra vez a Taça Disciplina, e era uma grande época para a Briosa.


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