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Entrevista com o Capitão Nascimento

Quando ainda se jogava a preto e branco, despontou nas fileiras da Briosa um jovem talento. Mais de dez anos depois, o jovem é agora o homem da braçadeira e um dos líderes do balneário. Chegou à Briosa pelas mãos do antigo capitão Nuno Correia e provou rapidamente a sua capacidade para pensar todo o jogo da equipa. Falámos com Manuel Nascimento, camisola número oito, para dar início às entrevistas na época 2017-2018.

P – Manel, esta já é a tua décima primeira época. Como é que tudo começou?

MN – Tudo começou “um dia, por acaso…” (risos). Entrei na Briosa com 16 anos, que é a idade mínima para entrar no Torneio, mas já via muitos jogos da equipa desde os 14 ou 15. Eu jogava ténis no CIF e a Briosa já tinha alguns treinadores e jogadores do Clube no plantel, e acabei por entrar. Os principais responsáveis foram o Bruno Catalão e o Nuno Correia, meus treinadores na altura.

Quando entrei comecei a extremo porque era o único sub-18 e eles achavam que eu era mega rápido. Tipo, como se a velocidade viesse no BI: “vais para extremo porque és novo e deves ser rápido!”. Quando me estreei lembro-me do Pires me dizer (para me motivar a mim ou para se motivar a ele, não sei) que eu ia ser o Cristiano Ronaldo da Briosa, vê lá… que ia para extremo e só tinha que partir aquilo tudo, que só tinha que correr. E claro que corri. E claro que acabou por se revelar uma comparação muito infeliz.

P – Com o passar do tempo, foste recuando no terreno. Hoje em dia é mais comum ver-te jogar como médio defensivo ou como defesa central. Como é que te vês em cada uma das posições e qual delas preferes?

MN – Comecei a jogar a central porque comecei a treinar e a jogar a central no campeonato universitário e a Briosa aproveitou. É uma posição muito mais fácil e dei-me bem, acho que é onde jogo melhor. Consegues ver o jogo todo de frente, e com calma podes tornar o jogo muito bonito e muito simples, e influenciar o resto da equipa. A trinco… gosto mais de jogar a trinco porque é mais difícil, é mais interessante até do ponto de vista intelectual. Estou mais no centro do jogo, o jogo desenrola-se a 360º, há mais coisas a acontecer. Mas não é fácil ser um bom trinco, para jogar bem é preciso estar muito mais afinado do que para jogar a central.

P – Em onze anos, já deves ter jogado com mais de cinquenta Briosos. Consegues enumera-los todos? Vá, podes só referir os três ou quatro que te marcaram mais.

MN – É muita gente. Fugindo aos que compõem o plantel atual ou do ano passado, claro que tenho que agradecer em primeiro lugar ao Catalão e ao Nuno Correia. Mas depois entro numa equipa em que o Jorge Ferreira era o capitão, o Thern e o Mag já eram tipo lendas vivas, o Russo, o Filipe Santos e o Ricardo Santos ainda não deviam ter sequer 30 anos, o Araújo e o Luis Barroso também lá andavam… não sei bem que conclusões tirar disto enquanto equipa de futebol, mas foi o grupo que me acolheu desde o primeiro minuto e gente com que ainda falo hoje em dia. Acho que hoje posso dizer que fiz bons amigos, que tive a sorte de conhecer gente muito boa.

P – Foste um dos muitos jogadores da Briosa que fez a transição do ténis para o futebol, dois desportos completamente distintos. Quais são os vícios que trouxeste do ténis que te têm sido mais úteis no futebol?

MN – Fundamentalmente, como é óbvio, são questões psicológicas. Acho que sou uma pessoa competitiva e exigente comigo mesmo. Tens que o ser, no ténis, porque aquilo é um duelo e só dependes de ti. Espero que isto ainda se note no Pinto Basto.

P – Este pode ser um assunto tabu, mas este blogue não foge aos temas sensíveis. Há quanto tempo não consegues ganhar ao Miguel Mendes, outro famoso tenista da Briosa?

MN – Acho que não lhe ganho desde que ele deixou de ter coragem para me enfrentar. Bom, na verdade… ele levou a melhor nos últimos jogos, mas de repente nunca mais pôde jogar. Acho que me sentiu à perna e se acobardou. É natural, também não o censuro.

Mas fica aqui o desafio: estou disposto a enfrentar o Mendes no court central do CIF com a Briosa na bancada a ver e a testemunhar. É só ele querer, e marca-se!

P – Voltando aos temas mais sérios. Quando chegaste à equipa em 2006, lutávamos para não ficar em último lugar. Trouxeste inúmeros jogadores, ajudaste a criar uma estrutura à volta da equipa, e preocupas-te sempre com a nossa forma de jogar. No fundo, tens contribuído e muito para a evolução da Briosa, que hoje luta de igual para igual com os candidatos ao título. O que gostávamos mesmo de saber é: se pudesses, o que terias feito de forma diferente?

MN – Eish… uma pessoa está sempre a aprender. Há tanta coisa que faço mal, coisas que não fiz, ou que demorámos a fazer. O dia da família já devia existir há tanto tempo! É verdade que gosto muito disto, e essa é a única razão pela qual tenho dedicado tanto tempo à Briosa. Porque dá sempre para melhorar, para se fazer melhor, para nos ajudarmos mais uns aos outros, para tornar isto ainda mais divertido. No meio deste percurso acho que tive uma altura em que me esqueci que a Briosa é, e não pode deixar de ser, um grupo de amigos que se junta para jogar à bola. E tive algumas discussões que se calhar não devia ter tido. Há zangas de que me arrependo. Ainda hoje me pode acontecer. A diferença é que hoje, se acontecer, chego a casa a pensar nisso, pego no telefone e peço desculpa. O mais importante são as relações que aqui se estabelecem, entre as pessoas, estas amizades. Cabe-me a mim e a todos salvaguardá-lo. Se errou o passe, se falhou corte, se a bola entra ou deixa de entrar… isso é o menos importante.

P – Geralmente, perguntamos sempre aos nossos entrevistados uma série de questões rápidas sobre os melhores jogadores da Briosa e do campeonato. No teu caso, gostávamos de começar por saber qual é para ti a equipa que joga melhor futebol no CIF atualmente?

MN – Acho que cada vez se joga melhor no CIF. O ano passado os Purrianos jogaram muito. O Pé-Leve coloca uma intensidade incrível nos jogos, é sempre muito difícil. E o ACDUL é o tetra-campeão… sinal que tem competido melhor que os outros, com qualidade e regularidade. O Madeirinha e os Canarinhos têm crescido, o Madeira parece estar de regresso… bem, isto tudo só para não dizer logo “a Briosa”!

P – E nos mais de dez anos que passaram, qual foi a equipa que mais te marcou pelo futebol que jogava, bom ou mau?

MN – Tenho na cabeça duas equipas muito fortes. Primeiro, o S.O.V., que já não existe, mas que é onde jogaram muitos ex-profissionais. No meu tempo, quem mandava era o Carlos Xavier. Ganhavam tudo. Todos velhos, ninguém corria naquela equipa, e todos os jogos acabavam em goleada. Outro nível! E segundo, mais recente e mais pontual, lembro-me do Madeira ali à volta dos anos em que foi campeão. Jogavam bem e bonito, um futebol ofensivo com muita qualidade e controlo. Pelo menos a mim marcou-me.

P – Para não fugir à regra, e porque os nossos leitores querem saber, quem é o Brioso que mais apreciaste ver jogar ao longo da tua carreira?

MN – Para falar um bocadinho dos mais novos, acho que o melhor jogador que vi jogar desde que entrei na Briosa foi o Rui Ascenso, ali entre 2012 e 2013. Tem uma ou duas épocas de um nível extraordinário, dos melhores do Torneio. Foi há 5 anos, com menos 20 ou 30 kg, nunca mais vamos ver aquilo, mas foi bonito. Era imparável, e tinha uma magia que quase não vias em mais ninguém no CIF. Agora… cabe-lhe saber adaptar-se, porque ainda nos pode dar coisas muito boas.

P – E o melhor jogador contra quem jogaste? De certeza que te cruzaste com inúmeros ex-profissionais, se quiseres podes indicar o melhor amador e o melhor ex-profisisonal.

MN – Os grandes, aqueles que se nota logo que são de outro nível… estamos a falar de pessoas que foram internacionais pela seleção portuguesa. Tipo Sá Pinto, ou Carlos Xavier. Mas o que mais admirei foi o Rui Varão, do Cosmos. O melhor, de longe. Acho é que ele não gostava muito de mim (risos). Na atualidade, acho que o Salas, do Pé-Leve, é um dos melhores do campeonato.

P – Daqui a dez anos, no ativo ou já fora dos relvados, como gostavas de ver a Briosa?

MN – Viva. Em primeiro lugar, viva, e no CIF. Significava que os que somos da Briosa hoje tínhamos feito o que nos compete, que é mantê-la viva e prepará-la para quem vier a seguir, e significava que o CIF continuava a existir em condições de receber o Torneio. A Briosa é uma equipa amadora e compete no CIF, que tem mais de 110 anos. Nós somos todos sócios do CIF. Já viste? A Briosa podia competir noutro sítio qualquer, há tantos…, mas compete há mais de 60 anos no CIF, e foi passando de pessoa para pessoa, até nos chegar a nós. São muitos anos. A Briosa e o CIF são indissociáveis. Nós temos que respeitar isto, por quem já jogou na Briosa e por quem vem a seguir. De certa forma, jogar na Briosa é um privilégio, e isso traz-nos mais responsabilidade.

E para voltar à tua pergunta: não vejo nada disto a alterar-se, se era isso que querias saber. Gostava de ver a Briosa a continuar esta transformação para “clube dentro do clube”, que é um processo giro. Por outro lado, vejo-nos a contribuir para que o CIF valorize cada vez mais o futebol, e vejo-nos como bons representantes daquilo que deve ser o CIF e o desporto em geral. Finalmente, gostava que este grupo de hoje se mantivesse unido ao longo do tempo. Gostava de conseguir manter os meus amigos por perto, que as nossas famílias se conhecessem e que continuássemos a marcar jantaradas e futeboladas “ad eternum”, como desculpa para estarmos juntos e aproveitarmos a vida.

P – Estamos naquela fase em que terminamos a entrevista ou lançamos a parte dois na próxima semana. Por isso, em tom de despedida, a pergunta mais difícil. Sábado, depois do jantar, só podes levar cinco Briosos ao Urban. Quem são e porquê?

MN – Fácil. Levava o Luis para nos ir abrindo garrafas. Levava o Cruz e o Mag para a primeira atuação ao vivo da nossa dupla de DJs “A Pente Fino e Ponto Cruz”. Depois acho que convidava o Rivera! O Rivera no Urban, de roupão. Tinha que ser. E por último, Vasco Hartigan, o nosso melhor RP. Por um lado para trazer o resto da equipa, e por outro para garantir que não somos barrados à porta…

Infra, um prémio para os que conseguiram ler tudo ou simplesmente fazer scroll até cá baixo. Fica a palestra típica do nosso Capitão Nascimento, neste clip representado pelo actor Wagner Moura. Na mouche.

Obrigado Capitão


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